O VENTO, A ÁGUA E MUITO MAIS!

Até que ponto as energias renováveis são de fato “verdes” quando a forma como são produzidas coloca em risco comunidades e o próprio meio ambiente que anseiam proteger? Essa questão me acompanhou durante os dias que passei em Jaguarari, no sertão norte da Bahia, investigando os impactos do mega projeto de energia eólica e solar que a Quinto Energy pretende instalar na região.

As serras da cidade tem alguns dos melhores ventos do país – e também dezenas de nascentes que abastecem mais de 1 milhão de pessoas a até 100 quilômetros da região. Essa fartura de água em pleno semiárido, que dá ao local o apelido de caixa d’água do sertão, porém, foi deixada de lado pelo projeto da Quinto, que pretende instalar mais de 400 torres de energia eólica e 476 mil placas de energia solar entre o município e a cidade vizinha de Campo Formoso (BA).

Cada aerogerador tem hélices com 170 metros de diâmetro e torres com 115 metros de altura, o equivalente a prédios de 43 andares. Para se ter uma ideia, a empresa pretende produzir 3,43 GW de energia, um quarto do produzido pela hidrelétrica de Itaipu! Mas a licença ambiental prévia fornecida pelo governo da Bahia para a instalação desses gigantes em pleno sertão considera apenas três nascentes.

Resultado: as nascentes de água que hoje abastecem esse pedaço do sertão (não muito longe da primeira região do país a ser considerada desértica), podem acabar soterradas pelo processo de instalação dos “gigantes” da Quinto nas serras da cidade.

E os moradores da região, os principais afetados, não parecem terem sido incluídos nessa conversa. Segundo eles, apesar da dimensão do projeto, moradores e organizações de defesa do meio ambiente afirmam que a Quinto Energy não ouviu a população local, ignorando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante o direito de consulta livre e prévia a populações tradicionais.

Convido você a ler as reportagens que publicamos ontem (17) e hoje (18) e refletir junto sobre o lado nem tão verde desse tipo de energia.



Paula Bianchi